02 fevereiro 2025

O que explica o entra e sai de Roseana no governo Brandão


Por Raimundo Borges

O Imparcial – Pela primeira vez, aos 71 anos, a deputada federal Roseana Sarney, governadora do Maranhão por quatro vezes, senadora e assessora especial da Presidência da República, está num cargo de secretária de estado.

Na última quinta-feira (30/01) saiu no Diário Oficial a sua nomeação de Secretária Extraordinária de Articulação Legislativa, ao mesmo tempo em que se afastou da Câmara e permitiu a ascensão do suplente do MDB, Hildo Rocha. Hoje ele está pronto para votar no deputado Hugo Mota (Republicanos) à Presidência da Câmara Federal. Roseana está impedida, por recomendação médica, de viajar de avião em razão do tratamento de saúde, associado a dores de cabeça e tontura.

Essa estratégia teve claro objetivo de evitar que Hugo Mota perca o voto que seria de Roseana. O tal arranjo no governo Brandão deve, porém, ter outra alteração. Roseana será exonerada na próxima semana, reassume o mandato e entra de licença da Câmara para cuidar da saúde. Ela não o fez antes porque o Congresso estava de recesso.

O ex-deputado Raimundo Cutrim, exonerado com apenas 10 dias na mesma função, reassumirá. Ele foi secretário de Segurança por longos anos em governos de Roseana, mas em 2013 rompeu com o grupo Sarney. Agora ele ficou surpreso com a exoneração e a nomeação de Roseana para o mesmo cargo e no mesmo Diário Oficial do dia 30. Por entrave regimental, Roseana não poderia se licenciar no recesso, o que vai poder fazer a partir desta segunda-feira.

Ela tira licença para tratamento de saúde, Hildo Rocha permanecerá na Câmara e normaliza a estrutura do governo Brandão, com Raimundo Cutrim na Articulação Legislativa, cargo que a deputada Ana do Gás assumiu no ano passado por uma temporada. Vale ressaltar que Cutrim, como deputado estadual, rompeu com Roseana Sarney em 2013, num duro pronunciamento na Assembleia Legislativa.

No dia seguinte ele assinou a ficha do PCdoB e se tornou aliado de Flávio Dino, então pré-candidato a governador, eleito em 2014 contra Lobão Filho, indicado por Roseana, de quem o delegado federal Raimundo Cutrim foi secretário de Segurança em dois mandatos e se projetou na política.

Sem dizer qual motivou daquele rompimento com o GrupoSarney, Cutrim atribuiu o gesto ao conselho de uma certa “dona Maria” do interior e que, a partir de então iria apoiar “aquele que foi juiz federal” (Flávio Dino). Mas ficou claro que o pivô da briga estava na figura do secretário que o substituiu na Segup, Aluízio Mendes, assessor do ex-presidente José Sarney, também membro da PF.

Desde 2014 é deputado federal e hoje ele preside o partido Republicanos no Maranhão. Por sua vez, o suplente do MDB Hildo Rocha vota hoje em Hugo Mota, com amplo favoritismo para se tornar presidente. Tem o apoio dos principais partidos – do PL ao PT e do presidente Lula.

Quanto tempo Hildo vai permanecer na Câmara é uma incógnita. Quem vai dizer são os médicos de Roseana Sarney e o próprio Carlos Brandão, cujo irmão Marcus Brandão é presidente regional do MDB, função que lhe foi passada – de mão beijada –, em novembro de 2023 por Roseana. Ela é emedebista desde quando ingressou na política como deputada federal em 1990.

O pai José Sarney, o ex-governador João Alberto e do atual prefeito de Bacabal, Roberto Costa, presidente da Federação dos Municípios do Maranhão (Famem), são membros históricos do MDB. Portanto, essa movimentação no governo estadual mostra que o MDB dos Sarney-Brandão continua muito forte no Maranhão, com 37 prefeitos e dezenas de vereadores, incluindo o próprio João Alberto em Bacabal.

O curioso nesse mexe-remexe no governo Brandão é que ninguém ouve falar em reforma administrativa no último biênio que acaba em 2026. Apesar de algumas especulações, Brandão permanece firme com o time que escalou em 2022 quase inalterado, principalmente nas pastas de maior relevância – exceto Educação, que ele tirou o vice Felipe Camarão.

Porém, tudo indica que, ainda em 2025, o governador troque o PSB pelo MDB, levando consigo um contingente de deputados estaduais, prefeitos e vereadores, estando nessa possibilidade o presidente da Câmara de São Luís, Paulo Victor. Esta semana ele recebeu uma visita de Marcus Brandão e o filho Orleans Brandão, um nome político em construção, sempre entre os cogitados para disputar o governo do Maranhão, apoiado pelo tio Carlos Brandão.